Sepultarás,
Orfeu, meu vitorioso nome
sob
a hediondez dos teus dizeres.
Honrarás
meu canto teu com desonra
e
cobardia. À deslealdade és leal!
Desonrarás
o humílimo sentimento
que,
porventura, haverão de confiar-te.
Darás
ombros costas e omoplatas
àquele
que lhe foi fuga carinho e busca
e
não cansou de ofertar um verso à tua canção.
Compreenderás
a justiça do mundo, do homem,
se
mal compreendes e zela qualquer sentir?
Hás
de sentenciar de morte isto que em mim é verdade.
Que
fui para ti, senão fuga e conveniência?
Que
foi para ti, meu verso, senão joia e adereço
a
saciar tua fome de astros cometas e constelações?
Ah,
a ingratidão é austera meretriz, fria ponciana!
Saibas
tu, ao menos, a extensão e profundidade
do
teu incisivo sol glacial, adaga vilipendiosa,
na
terna ferrugem da carne.
Ó
muso imperfeito! Ártico Imperador de civilizações
tragadas
na tua ígnea frialdade.
Dize-me,
que regozijo te chamusca a face
se
observas, no outro, dessubstanciar-se
risos
primaveras e palavras?
(Amas
a inevidência do riso?
Preferes
desérticas as estações?)
Mas
não te preocupa a palavra:
vê-te
na poesia, põe-te orgulhoso,
porque
é preciso grandiloquência
para
dizer-te, e coragem
para
te sorver incontáveis vezes.
Orfeu,
murro sobre o gume da faca.
Encerra
aqui meu canto que te acredita e prevê.
- 03/05/2015
13/10/2016 - reeditado
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